
ERA UMA VEZ...
ERAM UMAS VEZES...
ERAM N + UMA VEZES...
Era uma vez
uma boa história.
Tinha começo,
tinha meio e fim.
Era uma vez
uma história boa.
Não tinha fim,
nem meio e começo.
Nem começa assim:
Era uma vez.
Era, foi, seria...
Será tal vez.
Era tal vez a vez de um roteiro.
Original? Não tinha começo!
Adaptado? Talvez.
Assim é Era Uma Vez:
Eram Umas Vezes.
Eram N + Uma Vezes.
Será Tal Vez?
Era uma vez um roteirista que pegou um bonde andando. Um bonde chamado desejo. A linha do bonde não tinha fim. Nem começo. E não era circular. Trajeto cíclico, não. Eterno retorno, também não. Era movimento constante, contínuo, só. E o bonde seguia, prosseguia. Muitos passageiros a bordo. Bonde repleto. Nos pontos de parada, nem sempre sinalizados, embarques e desembarques. Gente polida, que acenava em respeitoso cumprimento. Gente apressada, que mal olhava ao redor. Eram umas vezes que vazios entre uns e outros parecia haver. Mas, a uma pequena mudança de posição sentia-se, vez ou outra, como que um corpo não detectável ocupasse um espaço, fosse no interior, nos estribos ou mesmo nas cabines de comando da máquina, que o motorneiro consentia na inevitável invasão.
Ficava evidente ao roteirista a impossibilidade de fixar um ponto de partida para sua história. À medida que o bonde avançava dançando sobre os trilhos, impunha-se quase que uma percepção incontestável. Não haveria ponto de chegada. Nós, talvez. Conexões. Meios, mediações. Começo e fim, não.